caracas

no museo de arte contemporáneo sofía imber

lambrusco

cartão portal
atrás da porta
luz verde
espia, olha o céu
quando a gente quer, não chove
perece o ano
volto ao início
revejo
refresco
reajo
adeus porta e janela
diz o vento abissal na calçada
saúde

homem na estrada

sempre bom escutar.

racionais mc's - homem na estrada (raio x do brasil/1993)

o mundo invisível

"tenho certeza de que só me mantenho viva por causa do mundo invisível onde ninguém pode me alcançar para me ferir e posso fingir que a vida faz sentido mesmo quando não faz. ali, quando os zumbis do mundo de fora me acossam com seus dedos sujos de sangue, invento a beleza e me reinvento como possibilidade. alguns olham para dentro e enxergam apenas vísceras. outros, horizonte."

pula!

durar frente a un tema, al fragmento de vida que hemos elegido como materia de nuestro trabajo, hasta extraer, de él o de nosotros, la esencia única y exacta. durar frente a la vida, sosteniendo un estado de espíritu que nada tenga que ver con lo vano e inútil, lo fácil, las peñas literarias, los mutuos elogios, la hojarasca de la mesa de café. durar en una ciega, gozosa y absurda fe en el arte, como en una tarea sin sentido explicable, pero que debe ser aceptada virilmente, porque sí, como se acepta el destino. todo lo demás es duración física, un poco fatigosa, virtud común a las tortugas, las encinas y los errores.

nos balés da tormenta

próximo trabalho do siba.

a noite

"às vezes observamos pessoas que observam um rio que nós não vemos. rio que por sua vez reflete uma parte da paisagem impossível de ver desde outra posição. e descobrimos o rio na atenção destes rostos, a paisagem em seu ensimesmamento."
"la noche devora a sus hijos" de daniel veronese

o céu sobre os ombros

galope rasante

a sombra que me move
também me ilumina
me leve nos cabelos
me lave na piscina
em cada ponto claro
cometa que cai no mar
em cada cor diferente
que tente me clarear

é noite que vai chegar
é claro, é de manhã
é moça e anciã

o pêlo do cavalo
o vento pela crina
o hábito no olho
veneno lamparina
debaixo de sete quedas
querendo me levantar
debaixo de teu cabelo
a fonte de se banhar

é ouro que vai pingar
na prata do camelô
é noite do meu amor

é noite que vai chegar
é claro que é de manhã
é moça e anciã
do zé ramalho. aqui com a mariana aydar.

social clube

no festival de performance de belo horizonte [12 de agosto de 2011]

pedreiro

no corredor
ao fundo
as mãos que ergueram a parede
esmurram no piano
analgésica canção serena
peguei no ffffound
hay solo un camino. el que hubo siempre. que el creador de verdad tenga la fuerza de vivir solitario y mire dentro suyo. que comprenda que no tenemos huellas para seguir, que el camino habrá de hacérselo cada uno, tenaz y alegremente, cortando la sombra del monte y los arbustos enanos.

esses queridos.

Teaser Terceira Dança - 1 no canal de experiências do vimeo de alexandre de sena .
série: one. edgar shapovalov

com que voz

as vozes embalaram-me durante anos. as vozes da casa, das paredes, dos que existiam e não existiam. as várias vozes da minha boca. as muitas vozes da imaginação. as vozes seguras. as vozes incertas. sempre, num balanço diário, desde o acordar ao adormecer.
                             
uma sinfonia precisa sempre de uma organização. pegamos nos vários instrumentos e tentamos que, da confusão, nasça uma harmonia. às vezes conseguimo-lo à primeira. noutras, muitos anos se gastam na perseguição desse objectivo.

não canso o meu espantar perante uma coisa bem feita quando o pensamento era ainda tão rarefeito. nem perdoo a preguiça por não ter colocado todos os outros textos acima do nível destes menos maus.

enquanto houver vida, haverá mudança.

devagar


"o inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. existem duas maneiras de não sofrer. a primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. a segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, fazê-lo durar, dar-lhe espaço.”
in cidades invisíveis - ítalo calvino

burn season

a insustentável leveza de quê?

deixar cair uma maçã com toda a força,

não estamos aqui pela gravidade, mas porque

amamos o chão – a terra

se possível, metemo-la toda na boca,

perdi um bloco de notas que me compraste no museu do galileu, nele tinha notas sobre a aflição e o atrito – a ligação entre poesia e ciência, a vontade de estar dentro de ti. a maçã contínua cai – sem que newton ou um poeta suicida – esqueci-me do número do andar – tenham ainda o sabor da razão na boca, azedo e verde, sem ter asas, nem querer voar: a insustentável leveza de quê? o atrito do ar enquanto desces e perdes toda a poesia, a inocência, a vontade de cair naquilo que nunca será ciência – falo da razão está nos teus olhos, dentes e boca.
nuno brito in créme de la creme

c h a o s r e i g n s

necessidades

el individuo que difiere de sus pares
que perturba o escandaliza a su familia o sociedad
suele ser calificado de insano acusado de enfermedad mental y
   perseguido como enfermo
este acto de psiquiatría llena necesidades importantes

el individuo que ve piernas azules de mujer volar
arbolitos cantar el mundo heder
es encerrado golpeado con electricidad insulina médicos
este acto de psiquiatría llena necesidades importantes

¿necesidades del volar o cantar?
¿necesidades del individuo que difiere de sus pares
que perturba o escandaliza a su familia o sociedad y es
calificado de insano acusado de enfermedad mental y perseguido como
   enfermo?

¿otras necesidades?
¿necesidades del individuo que no difiere de sus pares
que no perturba o escandaliza a su familia o sociedad
que no es calificado de insano acusado de enfermedad mental ni
   perseguido como enfermo?

¿piernas azules de mujer volar no?
¿ni arbolitos cantar ni mundo heder?
este acto de psiquiatría llena necesidades importantes
los jabalíes de oro se están comiendo a yvonne

boca

 no ffffound

2 meses

não comemoro.
esquecer aniversários é um talento estranho.
todo tudo é passageiro.


trecho de navio negreiro (castro alves)- com paulo autran no picumah soundcloud.

navio negreiro

I
'stamos em pleno mar... doudo no espaço
brinca o luar — dourada borboleta;
e as vagas após ele correm... cansam
como turba de infantes inquieta.
'stamos em pleno mar... do firmamento
os astros saltam como espumas de ouro...
o mar em troca acende as ardentias,
— constelações do líquido tesouro...
'stamos em pleno mar... dois infinitos
ali se estreitam num abraço insano,
azuis, dourados, plácidos, sublimes...
qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'stamos em pleno mar. . . abrindo as velas
ao quente arfar das virações marinhas,
veleiro brigue corre à flor dos mares,
como roçam na vaga as andorinhas...
donde vem? onde vai? das naus errantes
quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
neste saara os corcéis o pó levantam,
galopam, voam, mas não deixam traço.
bem feliz quem ali pode nest'hora
sentir deste painel a majestade!
embaixo — o mar em cima — o firmamento...
e no mar e no céu — a imensidade!
oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
que música suave ao longe soa!
meu deus! como é sublime um canto ardente
pelas vagas sem fim boiando à toa!
homens do mar! ó rudes marinheiros,
tostados pelo sol dos quatro mundos!
crianças que a procela acalentara
no berço destes pélagos profundos!
esperai! esperai! deixai que eu beba
esta selvagem, livre poesia
orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
e o vento, que nas cordas assobia...

por que foges assim, barco ligeiro?
por que foges do pávido poeta?
oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
que semelha no mar — doudo cometa!
albatroz! albatroz! águia do oceano,
tu que dormes das nuvens entre as gazas,
sacode as penas, leviathan do espaço,
albatroz! albatroz! dá-me estas asas.

II

que importa do nauta o berço,
donde é filho, qual seu lar?
ama a cadência do verso
que lhe ensina o velho mar!
cantai! que a morte é divina!
resvala o brigue à bolina
como golfinho veloz.
presa ao mastro da mezena
saudosa bandeira acena
as vagas que deixa após.
do espanhol as cantilenas
requebradas de langor,
lembram as moças morenas,
as andaluzas em flor!
da itália o filho indolente
canta veneza dormente,
— terra de amor e traição,
ou do golfo no regaço
relembra os versos de tasso,
junto às lavas do vulcão!
o inglês — marinheiro frio,
que ao nascer no mar se achou,
(porque a inglaterra é um navio,
que deus na mancha ancorou),
rijo entoa pátrias glórias,
lembrando, orgulhoso, histórias
de nelson e de aboukir.. .
o francês — predestinado —
canta os louros do passado
e os loureiros do porvir!
os marinheiros helenos,
que a vaga jônia criou,
belos piratas morenos
do mar que ulisses cortou,
homens que fídias talhara,
vão cantando em noite clara
versos que homero gemeu ...
nautas de todas as plagas,
vós sabeis achar nas vagas
as melodias do céu! ...

III

desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
como o teu mergulhar no brigue voador!
mas que vejo eu aí... que quadro d'amarguras!
é canto funeral! ... que tétricas figuras! ...
que cena infame e vil... meu deus! meu deus! que horror!

IV

era um sonho dantesco... o tombadilho
que das luzernas avermelha o brilho.
em sangue a se banhar.
tinir de ferros... estalar de açoite...
legiões de homens negros como a noite,
horrendos a dançar...
negras mulheres, suspendendo às tetas
magras crianças, cujas bocas pretas
rega o sangue das mães:
outras moças, mas nuas e espantadas,
no turbilhão de espectros arrastadas,
em ânsia e mágoa vãs!
e ri-se a orquestra irônica, estridente...
e da ronda fantástica a serpente
faz doudas espirais ...
se o velho arqueja, se no chão resvala,
ouvem-se gritos... o chicote estala.
e voam mais e mais...
presa nos elos de uma só cadeia,
a multidão faminta cambaleia,
e chora e dança ali!
um de raiva delira, outro enlouquece,
outro, que martírios embrutece,
cantando, geme e ri!
no entanto o capitão manda a manobra,
e após fitando o céu que se desdobra,
tão puro sobre o mar,
diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"vibrai rijo o chicote, marinheiros!
fazei-os mais dançar!..."
e ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
e da ronda fantástica a serpente
faz doudas espirais...
qual um sonho dantesco as sombras voam!...
gritos, ais, maldições, preces ressoam!
e ri-se satanás!...

V

senhor deus dos desgraçados!
dizei-me vós, senhor deus!
se é loucura... se é verdade
tanto horror perante os céus?!
ó mar, por que não apagas
co'a esponja de tuas vagas
de teu manto este borrão?...
astros! noites! tempestades!
rolai das imensidades!
varrei os mares, tufão!
quem são estes desgraçados
que não encontram em vós
mais que o rir calmo da turba
que excita a fúria do algoz?
quem são? se a estrela se cala,
se a vaga à pressa resvala
como um cúmplice fugaz,
perante a noite confusa...
dize-o tu, severa musa,
musa libérrima, audaz!...
são os filhos do deserto,
onde a terra esposa a luz.
onde vive em campo aberto
a tribo dos homens nus...
são os guerreiros ousados
que com os tigres mosqueados
combatem na solidão.
ontem simples, fortes, bravos.
hoje míseros escravos,
sem luz, sem ar, sem razão. . .
são mulheres desgraçadas,
como agar o foi também.
que sedentas, alquebradas,
de longe... bem longe vêm...
trazendo com tíbios passos,
filhos e algemas nos braços,
n'alma — lágrimas e fel...
como agar sofrendo tanto,
que nem o leite de pranto
têm que dar para ismael.
lá nas areias infindas,
das palmeiras no país,
nasceram crianças lindas,
viveram moças gentis...
passa um dia a caravana,
quando a virgem na cabana
cisma da noite nos véus ...
... adeus, ó choça do monte,
... adeus, palmeiras da fonte!...
... adeus, amores... adeus!...
depois, o areal extenso...
depois, o oceano de pó.
depois no horizonte imenso
desertos... desertos só...
e a fome, o cansaço, a sede...
ai! quanto infeliz que cede,
e cai p'ra não mais s'erguer!...
vaga um lugar na cadeia,
mas o chacal sobre a areia
acha um corpo que roer.
ontem a serra leoa,
a guerra, a caça ao leão,
o sono dormido à toa
sob as tendas d'amplidão!
hoje... o porão negro, fundo,
infecto, apertado, imundo,
tendo a peste por jaguar...
e o sono sempre cortado
pelo arranco de um finado,
e o baque de um corpo ao mar...
ontem plena liberdade,
a vontade por poder...
hoje... cúm'lo de maldade,
nem são livres p'ra morrer. .
prende-os a mesma corrente
— férrea, lúgubre serpente —
nas roscas da escravidão.
e assim zombando da morte,
dança a lúgubre coorte
ao som do açoute... irrisão!...
senhor deus dos desgraçados!
dizei-me vós, senhor deus,
se eu deliro... ou se é verdade
tanto horror perante os céus?!...
ó mar, por que não apagas
co'a esponja de tuas vagas
do teu manto este borrão?
astros! noites! tempestades!
rolai das imensidades!
varrei os mares, tufão! ...

VI

existe um povo que a bandeira empresta
p'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
e deixa-a transformar-se nessa festa
em manto impuro de bacante fria!...
meu deus! meu deus! mas que bandeira é esta,
que impudente na gávea tripudia?
silêncio. musa... chora, e chora tanto
que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
auriverde pendão de minha terra,
que a brisa do brasil beija e balança,
estandarte que a luz do sol encerra
e as promessas divinas da esperança...
tu que, da liberdade após a guerra,
foste hasteado dos heróis na lança
antes te houvessem roto na batalha,
que servires a um povo de mortalha!...
fatalidade atroz que a mente esmaga!
extingue nesta hora o brigue imundo
o trilho que colombo abriu nas vagas,
como um íris no pélago profundo!
mas é infâmia demais! ... da etérea plaga
levantai-vos, heróis do novo mundo!
andrada! arranca esse pendão dos ares!
colombo! fecha a porta dos teus mares!
castro alves

com que voz

as vozes embalaram-me durante anos. as vozes da casa, das paredes, dos que existiam e não existiam. as várias vozes da minha boca. as muitas vozes da imaginação. as vozes seguras. as vozes incertas. sempre, num balanço diário, desde o acordar ao adormecer.

uma sinfonia precisa sempre de uma organização. pegamos nos vários instrumentos e tentamos que, da confusão, nasça uma harmonia. às vezes conseguimo-lo à primeira. noutras, muitos anos se gastam na perseguição desse objectivo.

não canso o meu espantar perante uma coisa bem feita quando o pensamento era ainda tão rarefeito. nem perdoo a preguiça por não ter colocado todos os outros textos acima do nível destes menos maus.

enquanto houver vida, haverá mudança.

actos de fé

é inevitável.
irá chegar a hora de desapegar.
das coisas, das pessoas, dos lugares.
de tudo.
e serás totalmente livre.
até chegar a hora,
o melhor é não se apegar.
às coisas, às pessoas, aos lugares.
a nada.
vá se livrando.
é inevitável.

elias gibran

sala


"brisa serena quando surge a aurora
e alva neve que baixa sem ter vento
corrente d´água e prado de mil flores
ouro prata e azul por ornamentos"

o mínimo do máximo


     tempo lento, espaço rápido,
quanto mais penso,
     menos capto. 
se não pego isso 
     que me passa no íntimo, 
importa muito? 
     rapto o ritmo. 
espaçotempo ávido, 
     lento espaçodentro, 
quando me aproximo, 
     simplesmente me desfaço, 
apenas o mínimo 
     em matéria de máximo.

paulo leminski - distraidos venceremos (1983 - 1987). leia o livro aqui.


carta da liberdade: o que queremos alcançar



vamos um passo após o outro.
com o coração tranquilo.

este é um convite para uma ação.
venha com a cor que quiser. a sua, a do outro.
traga uma flor.
traga o que lhe for precioso. venha com seu corpo. traga você.
nos encontraremos não para lembrar o último dia 14.
nos encontraremos para, talvez, relembrar 26 de junho de 1955.
talvez, para relembrar todos os dias que nos encontramos na nossa cidade e em outras.
para manter presente um ideal, ações e nos alimentar deste encontro.
dos reflexos.

"por estas liberdades nós lutaremos, lado a lado, ao longo de nossas vidas, até que nós ganhamos nossa liberdade"

espalhe a palavra.

abs
a.


flyer convite:
http://migre.me/5su50


carta da liberdade:
http://migre.me/5sttY

speech nº3

o que não vaza é pele

escrevo com letra minúscula. costumo fazer assim. minhas frases são pequenas como somos todos. minha voz é potente e ocupa lugar no espaço. todos temos voz. juntos, pequenos, somos muito, muito grandes.

tenho lido TODAS as mensagens, emails, matérias... isso me conforta, me emociona e me dá força. tento responder aqui e descrever o que aconteceu em blumenau.


o convite
estive presente na 24ª edição do festival internacional de teatro universitário a convite da professora pita belli. junto com meus sócios elaboramos 4 ações do feto - festival estudantil de teatro e uma ação do aporta - encontro estudantil de artes cênicas.minha chegada na cidade foi no dia 12 de julho de 2011, às 2:00 da manhã.


acontecimento
no dia 12, após assistirmos o espetáculo “trajetória \”x”\”,  do grupo chia, liiaa! [direção fernando villar - unb - brasília/df], nós da equipe da no ato cultural fomos jantar na companhia da professora ana fabrício [faculdade de arte do paraná - fap - curitiba/pr] e por coincidência um dos assuntos foi a porcentagem de negros no sul do país e o trabalho feito por ela na coordenação pedagógica do festival do teatro brasileiro, no mês de junho.


mais tarde, voltamos eu, byron o’neil e rodrigo soares ao ponto de encontro do fitub, que acontecia no foyer do teatro carlos gomes, para buscarmos a filmadora que havia ficado no escritório do festival. algumas pessoas, dentre elas o professor naciso telles [universidade federal de uberlândia]. ficamos conversando sobre participação em redes de teatro, política pública cultural, ações do movimento nova cena e parcerias para o ano corrente.


o ponto de encontro encerrou suas atividades e cerca de 60 pessoas se dirigiram, após sugestão do organizador do bar do ponto de encontro, ao posto hass [localizado à rua são paulo, próximo à prefeitura]. o intuito foi continuar as conversas sobre teatro, ensino das artes, intercâmbio e festivais antes de retornarmos ao hotel. era por volta de 3:20h do dia 13 de julho. chegando no posto, ficamos longe das bombas de combustível e ordenadamente, quem tinha necessidade, adentrava a loja de conveniência para adquirir o que fosse de seu desejo.


realmente acredito que 60 pessoas, mesmo sussurrando, causem barulho, porém, não havia balbúrdia. não tínhamos instrumentos musicais, nem equipamentos de som. o objetivo era a troca de informações e vivências.


às 3:40h chegou uma viatura da polícia militar no posto. a viatura estacionou de modo a obstruir a visão daqueles que se localizavam dentro da loja de conveniência. os policiais abordaram estas pessoas dizendo “saiam daqui bando de vagabundos” entre outras frases que não me recordo. como atuo em em belo horizonte com movimentos populares buscando a ocupação humanizada da cidade e por fazer parte de uma família de militares vi que aquilo não era o correto e indaguei que a forma estava errada, mas mesmo assim, com ajuda de outras pessoas, fomos conversando com os convivas daquele momento afim de voltar para o hotel. meu sócio, rodrigo soares, se aproximou e perguntou se estava tudo bem, eu disse que sim e ele, acompanhado por byron o’neill, foram até o interior da loja de conveniência para comprar cigarros e cerveja para irmos embora. enquanto as pessoas se afastavam, me assentei no meio fio da parte externa do posto para aguardá-los. ouvi um grito: “VAZA NEGÃO!”. olhei para trás e constatei que o brado era comigo. vendo que um dos dois policias se dirigia a mim, levantei para explicar que eu estava aguardando meus amigos. após minha resposta ouvi: “AQUI NÃO É O SEU LUGAR! vaza negão!”. após esta frase levei um TAPA na orelha direita. ouvi um forte estampido e disse: “o que é isso!? você me machucou!”. ele: “sai daqui! aqui não é seu lugar!” ainda me atingindo com SOCOS e CHUTES. continuei dizendo: “está errado. você não pode fazer isto! esta não é a abordagem correta! estou esperando meus amigos que estão na loja de conveniência!”. mesmo assim os socos e chutes continuaram.


de repente, o segundo policial gritou de onde estava, mais afastado: “o que você está fazendo aqui?” e se dirigiu até onde tudo estava acontecendo. inocentemente, acreditei que ele ia reconhecer a ação absurda de seu colega de corporação. inocentemente... eu disse: “estou esperando meus amigos”. o segundo policial: “aqui não é seu lugar, negão! sai fora! vaza!”. ele deu meia volta, foi até a viatura, pegou uma ESCOPETA, se dirigiu a mim e desferiu VÁRIOS GOLPES no peito. eu continuava dizendo que eles estavam errados, que aquela não era a abordagem correta. procurei a identificação dos policiais, aquela que fica no peito, fixada com velcro, do lado do coração. vi que não estava ali e disse: “vocês estão sem identificação! isto está errado!”. talvez isso fez com que a fúria gratuita aumentasse... fui atingido mais e mais. quando percebi que podia ser espancado até a morte ali, de pé, dei as costas e saí ANDANDO, quando a parte posterior do meu corpo se tornou alvo.


me aproximei das pessoas assustadas que observavam [artistas locais, artistas do restante do país, estudantes universitários da argentina, do uruguai entre outras pessoas] e disse: “é isso!? vamos deixar isto acontecer? vocês acham que eles estão certos?” mas estávamos todos atordoados com tamanha selvageria.


meus dois sócios/amigos saíram da loja sem perceber o que havia acontecido. indagaram os policiais pela forma da primeira abordagem. para minha surpresa, os representantes da justiça não tiveram a mesma reação que tiveram comigo. de longe, pedi para um deles identificar os policiais. o rodrigo se aproximou, pegou meu aparelho celular e tirou uma foto da placa da viatura.  saímos do local em direção ao hotel, quando liguei para o 190, para pensar na próxima ação. fui indicado a procurar a corregedoria da polícia militar que iniciaria o atendimento às 13:00h deste mesmo dia.



o desenrolar e as dores
ao acordar, fui procurado pela parte da equipe que não sabia do ocorrido. contei pausadamente para não chocar meus companheiros. ligamos para a corregedoria da polícia militar de santa catarina e fomos indicados a procurar a tenente elisa, da corregedoria da pm de blumenau. lá relatei o fato e identificamos os ocupantes da viatura, que permaneceu no posto até por volta de 5:00h. fato elucidado através do monitoramento do gps da pm. a tenente, ao reconhecer os policias, teve uma expressão que traduzo: “é... realmente sei quem são”, como quem já conhece o histórico destas pessoas. apesar disso não revelou os nomes. fez uma solicitação para o exame de corpo delito para o dia seguinte, 14 de julho, às 11:00h. depois pediu sinceras desculpas e se mostrou realmente envergonhada com a situação.


voltei para o hotel mas as dores no corpo não me deixaram descansar. procurei um hospital particular onde, depois de vários exames, foi marcada uma consulta com o dr. carlos neconecy para o dia seguinte, 14 de julho, às 9:00h, em caráter de urgência.


retornei para o hotel onde nós, equipe da no ato cultural, começamos a traçar as ações que seriam realizadas no dia seguinte: 9:00h consulta urgente, 9:30h manifestação [saindo da porta do teatro carlos gomes até o iml], 11:00h exame de corpo delito e ampla divulgação do ocorrido, urgentemente.


no dia 14 fiz o exame que constatou um rompimento do tímpano [50%] mas não deu tempo de detectar a porcentagem de perda auditiva por causa do horário. fui direto para o iml. lá fiquei sabendo que a polícia militar não pode solicitar o corpo delito, somente a polícia civil. a pressão da chegada de dezenas de populares e da imprensa fez com que este protocolo fosse quebrado e o exame realizado.


o que me deixa dúvidas é: como um exame pode calcular o tempo, a profundidade e a gravidade dos golpes somente com a localização dos hematomas e fotos dos mesmos? porque meu ouvido não foi examinado? por que só houve uma cópia do relatório do médico do hospital particular? este procedimento é sempre realizado desta forma?


logo após cancelei meu retorno a belo horizonte e me dirigi à 1ª delegacia de polícia de blumenau [polícia civil] onde fui recebido pelo agente paulo lázaro correa. o atendimento no princípio foi o “tradicional”, infelizmente, do jeito frio que todo cidadão é recebido quando procura este amparo. a escuta só foi mais humana, como deve ser o atendimento a qualquer cidadão, quando simultâneamente uma matéria foi exibida no jornal local, às 12:30h, com depoimento meu e posicionamento do comandante da polícia militar de blumenau. por que as coisas tem que acontecer deste jeito? a tv foi mais forte que nós, ali, de corpo presente, explicitando todo o ocorrido.


o pedido do exame [já realizado] foi enviado via fax para o iml e o prazo legal para termos acesso ao resultado era de aproximadamente 15 dias. a polícia teria acesso ao exame após 3 dias. eu ainda não tive acesso ao exame e estes prazos não existiram para a polícia, que à noite, já divulgava na imprensa o resultado.


me dirigi ao ministério público de blumenau onde fui recebido, pela primeira vez, como qualquer cidadão deve ser atendido [com respeito, dignidade e escuta interessada] pelo promotor flávio duarte de souza. recebi instruções para os próximos passos.


voltando ao hotel, fui entrevistado por jornais, rádios e sites de todo o brasil. conversei com nilmário miranda e com o movimento da consciência negra de blumenau [veja a moção de repúdio e o ato que acontecerá em frente à prefeitura de blumenau].


retornei à belo horizonte na manhã da sexta-feira, 15 de julho. no mesmo dia houve apresentação do espetáculo “congresso internacional do medo”.




e agora?
as coisas estão caminhando. ainda em blumenau, conversei com muita gente. várias pessoas, chorando, pediram perdão pela ação dos policiais. muitas ficaram preocupadas com a imagem que eu levaria da cidade e com a repercussão do fato.


ok. será isto legítimo? será que a preocupação é esta?


isto acontece todo dia!  não só comigo, não só em blumenau! não dá pra disfarçar, fingir que não existe! POR FAVOR!


muita gente se condói, pede desculpas, se emociona. também estou machucado, não estou ouvindo direito, mas só sentir é POUCO. MUITO POUCO!


a notícia se espalhou, o facebook está cheio, o twitter pula como ele só! mas vamos agir. eu continuo agindo.


as comissões de direitos humanos [das três instâncias] estão me ajudando. o comandante geral da polícia de santa catarina vai acompanhar o caso pessoalmente, a furb está sendo exemplar, os meios de comunicação estão envolvidos, os órgãos judiciais já foram acionados, mas tenho umas perguntas:


- CIDADÃOS DE BEM NÃO PODEM ANDAR EM GRUPO DE MADRUGADA?


- É CORRETO POLICIAIS AGREDIREM UM CIDADÃO NEGRO POR NADA?


- É CORRETO POLICIAIS AGREDIREM QUALQUER CIDADÃO POR NADA?


- É COERENTE O COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR DE BLUMENAU DIZER AO VIVO NUM JORNAL TANTOS ABSURDOS SEM APURAR OS FATOS E JUSTIFICAR ERROS MEDÍOCRES DE SEUS SUBORDINADOS APENAS PARA PROTEGER A REPUTAÇÃO DA CORPORAÇÃO?


- É LEGÍTIMO O PORTAL TERRA SE RECUSAR A PUBLICAR O ACONTECIDO SÓ PORQUE EU NÃO QUIS ENVIAR FOTOS DOS HEMATOMAS? O QUE É MAIS IMPORTANTE NO ACONTECIDO SENHOR EDITOR?


- É LÚCIDO O COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR DE BLUMENAU, NO JORNAL NOTURNO, DIZER QUE OS POLICIAIS NÃO SERÃO AFASTADOS POR SE TRATAR DE UM CASO  QUE NÃO TEM TAMANHA GRAVIDADE, MESMO EM PODER DO EXAME DE CORPO DELITO?


- É NATURAL UMA CIDADE ACHAR QUE A VIDA É UMA FESTA DE FAMÍLIA E SE PREOCUPAR SOMENTE COM O VERNIZ QUE ESCONDE ALGUMAS TRAÇAS?




estas são as primeiras perguntas, outras virão à reboque. VÁRIAS. o processo está apenas começando. fico feliz por não ser somente um fato, uma coisa que aconteceu somente comigo. tudo isso despertou nos habitantes de blumenau um sentido de pertencimento e reivindicação de direitos. fatos como esse acontecem todos os dias e não podemos fingir que não é conosco, que não nos diz respeito.


apanhei. muito. MUITO.


fiquei o tempo todo DE PÉ, de peito aberto.


acredito que cada um pode (e deve) fazer mais, denunciar mais, gritar, ir para a rua, buscar o seu direito, exigir soluções do poder público, do judiciário, debater as leis, enfim, SER CIDADÃO.


permaneço de pé e caminhando para que o respeito prevaleça.






por todos.
família, irmãos, amigos, negros, ruivos, latino-americanos, argentinos, bolivianos, chilenos, japoneses, mulheres, alemães, gays, crianças...




“o mal do urubu é achar que o boi tá morto...”
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