fragmento
começo a perceber melhor o fragmento deixado dentro da cabeça. não é uma bala, nem um pedaço de vidro. é uma semente. uma semente que se transforma com o crescimento da própria cabeça. a determinado momento, o fragmento já não é fragmento, porque igual. é uma parte do todo. pertence ao conjunto. começo a perceber melhor.
temporada radiola picumãh - dial #1
a radiola está de volta! uma pequena temporada para colher frutos bons, sons saborosos e noites com surpresas especiais. além de trazer pros nossos lados músicas de vários cantos, cantos de dentro e cantos de fora, esta temporada vai contar com convidados de levada fina e groove intenso.
para começar, o dial #1 será no dia do santo guerreiro. veja o flyer, divulgue para os amigos e venha celebrar!
| 23/04 - 23h - $10 masc e $8 fem |
temporada radiola picumãh - dial #1
dj alexandre de sena
ziriguidun
av. presidente carlos luz, 470 (catalão) – caiçara
belo horizonte | mg
>> próximo dial:
28/05 - com chimpanzé clube trio [sp]
bora lá!
quase lá
terminando a programação da temporada radiola picumãh. uma pequena diversão para colher frutos bons, sons saborosos e noites com surpresas especiais. além de trazer pros nossos lados músicas de vários cantos, cantos de dentro e cantos de fora, esta temporada vai contar com convidados de levada fina e groove intenso. vamo que vamo!
Quando os sorrisos desdenham o caos
Com um sorriso farto e os olhos brilhando, um garoto segura uma velha câmera fotográfica, diverte-se fingindo registrar os jornalistas recém-desembarcados na Praça Champ de Mars. Não há filme na máquina, mas isso não parece preocupá-lo. O terremoto o fez aprender desde cedo que bastam alguns segundos para ceifar milhares de vidas e arrasar todos os bens que a família possuía. As fotos serão reveladas e guardadas na memória, único lugar inatingível pela fúria do instável subsolo haitiano.
A praça fica em frente ao Palácio Nacional, destruído pelo terremoto, ocorrido em 12 de janeiro. O número de mortos pode chegar a 300 mil. Símbolo da tragédia, tornou-se um campo com 50 mil desabrigados que vivem em barracas, umas de material impermeável outras feitas apenas com pedaços de tecido. Falta tudo: banheiros, cozinha, comida, água, energia, numa lista infindável de gêneros de primeira necessidade. As pessoas tomam banho entre as barracas, ou no meio da rua. A comida, quando há, é preparada em qualquer canto.
O cenário é de caos e horror, terreno fértil para o choro, para a dor, trágico suficiente para deprimir e desesperançar os sobreviventes do cismo. Mas a realidade surpreende, os sorrisos, as brincadeiras e a vaidade vão brotando entre os mosaicos multicoloridos de barracas e tecidos. Num canto, a mãe adorna o cabelo da filha mais nova com dezenas de enfeites coloridos, as poucas roupas que sobraram estão bem cuidadas e limpas. Dentro de outra barraca, um senhor ajusta com zelo o nó da gravata, mulheres improvisam um salão de beleza, cabelo, maquiagem e unhas são cuidadosamente tratados.
As crianças são o maior exemplo de superação. Qualquer pedaço de plástico e alguns gravetos se transformam numa pipa. Outros correm por entre as barracas, improvisam carrinhos, bonecas e aviões. Brincam e sorriem, reconstróem os ciclos de amizade, aprendem a viver sem os pais, sem os avós, tios, primos e amigos que morreram no cismo. Não vi uma única criança chorando, nem entre as que estavam no hospital com braços e pernas quebradas.
Nas ruas o trânsito absurdo e o comércio informal anunciam que tudo começa a voltar ao ritmo pré terremoto. A urgência da vida é estimulada pela intolerância do clima. Falta menos de um mês para o início do período de chuvas, cada núcleo familiar corre atrás de se abrigar melhor, sabem que as lonas impermeáveis resistem a água mas não suportam os ventos da temporadas de furacões que começam em julho. Todos sabem que ficar parado num letárgico estado de luto só agravará a situação. Viver para o haitiano é conseguir driblar as catástrofes e conflitos que permeiam sua história.
texto e fotos de sergio ranalli.